O Sacramento do Matrimônio

O Sacramento do Matrimônio

É ADMIRÁVEL e até surpreendente que o amor humano, o amor entre um homem e uma mulher – amor que envolve doação, parceria, cumplicidade, carinho, carícias e intimidade sexual e erótica, – seja marcado por Cristo com a sua Graça, isto é, que seja um Sacramento. O amor entre homem e mulher, amor carnal, também é sinal do Amor de Deus. Vejamos...

O Catecismo da Igreja Católica afirma o seguinte:

“O pacto matrimonial pelo qual o homem e a mulher estabelecem entre eles a comunidade [comum unidade] por toda a vida, por sua própria natureza ordenado ao bem dos esposos   e à procriação e educação dos filhos, entre os batizados foi elevado por Cristo Senhor à dignidade de Sacramento.” (CIC §1601)

Há uma grande beleza nesta realidade: homem e a mulher, pelo amor, assumem uma aliança para toda a vida. E para quê? Primeiro por amor, para desfrutarem e viverem o amor entre eles: amando-se e sendo "felizes para sempre”. – É disso que o Catecismo está falando quando diz “bem dos esposos”. Em segundo lugar, porém não menos importante, o Matrimônio é assumido para que o casal partilhe seu amor com os filhos que Deus lhes enviar. O perfeito amor é assim, difusivo: espalha-se, difunde-se, aumenta... Quanto mais amor, mais partilha. E mais expansão de amor.

O Catecismo diz ainda que esse amor, entre um cristão e uma cristã, foi elevado por Cristo à dignidade, à condição de Sacramento, quer dizer, de sinal eficaz da Graça de Cristo(!). Até São Paulo, admirado, exclamou sobre essa realidade: “Mas é grande esse mistério!” (Ef 5,32). O Catecismo recorda ainda que a Escritura, do começo ao fim, fala do Matrimônio e do seu mistério profundo: basta lembrar que, logo no Gênesis, está a criação do homem e da mulher e a ordem de crescerem e se multiplicarem. E vemos ali a primeira palavra do homem, que não foi uma oração a Deus, mas uma declaração de amor: “Eis agora, aqui, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne!” (Gn 2,23). E o Apocalipse, último livro da Bíblia, termina com a visão mística das Núpcias do Cordeiro, que é o próprio Cristo, com sua Igreja, a Jerusalém Celeste (cf. Ap 19,7.9).

O Matrimônio na ordem da Criação

O Matrimônio, enquanto união sagrada entre homem e mulher, não começou a existir com o cristianismo; existe desde que existem os seres humanos. A Escritura diz que Deus nos criou à sua imagem, e semelhança. Entre outras coisas, isso significa que o homem, assim como Deus, é capaz de amar e de ser amado. Todos nós temos sede de dar e receber amor. Você já parou para pensar que somente amando é que nos humanizamos, amadurecemos, crescemos, não só espiritualmente como também emocionalmente e até intelectualmente? Amando é que crescemos enquanto seres humanos, em sentido integral. Quem não ama se desumaniza. Aquele que se fecha para o amor se animaliza, de um modo ou de outro.

 

Por isso mesmo, - veja que interessante é isto, - no Gênesis lemos que Deus cria e vê que tudo o que cria é bom; mas, ao criar o homem, exclama: “Não é bom que o homem esteja só” (Gn 2,18). O SENHOR, então, do homem cria a mulher. Belíssima e profunda esta parábola, esta linguagem simbólica do Antigo Testamento da Bíblia! E a Escritura diz que então Deus mandou um sono ao homem, o que deixa claro que ele, homem, não participa da criação da mulher: ela é criada diretamente por Deus, assim como o homem. E Deus a tira da costela, do lado do homem, do seu íntimo, para que lhe seja companheira, para que sejam os dois "uma só carne" (Gn 2,24). Como dizia Sto. Agostinho, Deus não tirou a mulher dos pés do homem (porque ela não é inferior a ele) e nem lhe tirou da cabeça (ela também não lhe é superior): tirou-a do lado.

Significativo também é o fato de Deus não ter novamente assoprado sobre a mulher para dar-lhe a vida: ambos vivem do mesmo Sopro de Deus, pois foram feitos um para o outro. E o amor do homem pela mulher, logo que a viu, foi instantâneo (Gn 2,23).

Assim vemos que o Matrimônio não é uma realidade exclusivamente cristã. Ainda que somente o Matrimônio entre cristãos seja Sacramento, as uniões entre homens e mulheres, fundamentadas no amor, são de algum modo abençoadas por Deus, pois estão inscritas naquele propósito inicial do SENHOR para a humanidade. Em todas as culturas e épocas, enquanto o ser humano existir, homem e mulher largarão tudo, sairão de seu ninho afetivo, deixarão a família em que nasceram e assumirão uma grande aventura: formar uma nova família, um novo lar, uma nova vida totalmente compartilhada, na qual o destino dos dois esteja entrelaçado, e desse laço dependa o destino dos filhos! Realmente, “é grande este mistério”...

• COSTA, Henrique Soares da, Bispo. "O Sacramento do Matrimônio", disponível em:

https://domhenrique.com.br/index.php/sacramentos/matrimonio/202-o-sacramento-do-matrimonio-i

acesso 21/2/014

 

• TABORDA, Francisco. Matrimônio Aliança - Reino, 2ª ed. São Paulo: Loyola, 2001.

 

• MOSER, Hilário. O Sacramento do Matrimônio: Guia Prático em Perguntas e Respostas. Tubarão: Diocesana de Tubarão, 1999.